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n16 - Mês de Tishrei

Mês de Tishrei

  |   Judaísmo

Porquê sempre sete? É claro que esse número tem uma significação especial no Judaísmo. Cada sétimo dia no Judaísmo é santo. Contamos sete semanas entre Pesach e Shavuot. Cada sétimo ano é especial (se chama “shemitá“, “libertação”). E nós começamos nesse tempo o sétimo mês do calendário judaico. Então não é de surpreender que esse mês seja um pouco especial. Esse sétimo mês tem o nome babilónico “Tishrei”, do acádio tašrītu = “início”. Na Bíblia ainda se chama Ethanim (1 Reis 8:2). E o mês das festas e dias especiais é o mês da identidade judaica. Entender a significação de todos os aspectos deste mês é entender o que é o Judaísmo.

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DIA 1: Rosh ha Shaná ראש השנה

De acordo com o Talmud, os seres humanos foram criados no primeiro dia de Tishrei. Então, este aniversário da humanidade é o início para a contagem dos anos; cada ano nos faz lembrar: a vida é um presente. No tempo bíblico foi também o início para a tributação das frutas e legumes – início do ano fiscal. Na noite do dia 2 de Outubro de 2016 vamos começar o ano 5777 depois da criação da humanidade (muitas vezes, as pessoas dizem de forma mais geral “depois da criação do mundo”). Em hebreu esse número se escreve só 777: תשע׳׳ז . O primeiro dia do ano novo se chama “Rosh haShaná“, quer dizer “cabeça do ano”. Esse dia se chama também “dia do julgamento” (Iom ha Din), “dia da memória” (Iom ha sikaron) e “dia de soprar do shofar” (Iom teru-á).

Há um costume asquenazita antigo de ir durante a tarde para um rio e atirar pão para a água, enquanto se confessam os pecados, para sentir que Deus perdoa as nossas insuficiências e os nossos erros, à medida que os peixes fazem desaparecer os pedaços de pão. Apenas em anos muito recentes as sinagogas progressistas começaram a praticar este costume também. Se chama Tashlich (= “você vai lançar”), baseado num verso do profeta Mica sobre a perdão (Mica 7:19).  Ler mais (em inglês).

DIA 2: Rosh ha Shaná

Rosh ha Shaná dura dois dias, porque nos tempos antigos o início de um mês foi anunciado com sinais de fogo e durou algum tempo até o sinal chegar ao lugar mais longínquo, onde viviam os judeus da diáspora. Hoje em dia, temos calendários exactos, mas mantemos a tradição de ter dois dias de festa. As leituras da Torá no serviço são diferentes para o segundo dia.

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1. Selo de Gedalias

DIA 3: Jejum de Gedalias, צום גדליה

O terceiro dia de Tishrei é um dia de jejum menor, para se lembrança dum evento dos tempos bíblicos: o assassinato do governador Gedalias (ver Jeremia 41:1-3). Em geral, esse dia é mantido só pelos judeus ortodoxos, que fazem um jejum desde manhã até a tarde. Porém, depois do assassinato de Izchaq Rabin, em 1995, por um judeu, alguns judeus progressistas começaram de novo refletir sobre Gedalias, que também foi assassinado por um judeu e foi o início do fim da independência política judaica no tempo antigo. Vale a pena reflectir como temos tratado os nossos líderes até hoje.

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Dez Dias de Arrependimento, עשרת ימי תשובה

Os dias entre Rosh ha Shaná e Iom Kipur chamam-se Aseret Ieme ha-teshuvá “Dez Dias de Arrependimento”. Porque em Iom Kipur o nosso destino será selado – para usar a linguagem metafórica – esses dez dias serão a última chance para nos reconciliarmos com os nossos companheiros seres humanos antes do Iom Kipur, porque o Iom Kipur só pode perdoar os pecados entre nós e Deus se nos tivermos perdoado uns aos outros. Por isso, estes dez dias são de grande importância.

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2. Um kittel asquenazita

DIA 10: Iom Kipur, יום הכיפורים

A palavra hebreia kiper quer dizer “cobrir”. São os pecados entre nós e Deus que serão cobertos. Por isso se chama dia do Perdão ou dia de Expiação (Levíticos 16:31). É o dia da identidade judaica. Uma e outra vez, no curso da história, judeus se sentiram chamados de volta ao Judaísmo, mesmo aqueles que estavam a ponto de deixá-lo (como Franz Rosenzweig). Durante da Inquisição, Judeus jejuaram, mas tiveram cuidado de que ninguém notasse, e rezavam apenas por algumas horas em segredo durante esse dia. Hoje em dia, mesmo judeus que não são religiosos vão nesse dia, pelo menos para algumas horas, a uma sinagoga para estarem juntos com outros judeus, para rezar um pouco, para reflectir sobre ser judeu, para se sentirem judeus. São cinco serviços no Iom Kipur e um serviço memorial para os membros falecidos da congregação e nossas famílias. É costume que cada um, ou pelo menos o líder do serviço, esteja vestido com roupas brancas. A roupa branca asquenazita denomina-se “kittel“. Sefarditas usam roupas normais brancas ou de outras cores.

Os rolos da Torá e os panos na sinagoga são todos brancos. Branco é a cor do perdão, da pureza e da vida nova. Não comemos ou bebemos durante todo o Iom Kipur, desde a escuridão da tarde até a havdalá após o anoitecer – um jejum de quase 25 horas. Também não usamos jóias, perfumes ou sapatos de couro. Existem várias explicações para esse jejum (muito extenso para explicar aqui). Mas o jejum – junto com as rezas – é uma parte da grande especialidade desse dia. Antes, mas especialmente depois o jejum (“quebra jejum”), comemos uma refeição festiva.

É uma mitzvá começar imediatamente nessa noite com a construção de uma suká – uma cabana temporária.

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3. Um lulav
DIA 15: Primeiro dia de Sukot, סוכות

Originalmente, não foi o Iom Kipur o mais importante no mês do Tishrei. Imagine esses primeiros 15 dias como sendo uma preparação para o destaque do ano, que no Talmud apenas se chama “a festa”. No tempo antigo, Sukot era a festa mais importante para os judeus. Por isso, é até hoje a festa com mais costumes e mais significações. Antigamente, todos fiziam uma peregrinação ao Templo (como em Pesach e Shavuot – por isso estas três festas se chamam shelosh regalim: “três festas de peregrinação”. Sukot é o terceiro e último deles).

  1. Construímos cabanas para viver durante uma semana em abrigos temporários. O nome da festa, Sukot, quer dizer “cabanas”. Em português a festa também se chama festa dos “Tabernáculos”. A cabana lembra da fragilidade da nossa vida, do templo e da presença de Deus durante as andanças do deserto.
  2. Agitamos (sim!) quatro plantas, porque todas dependem da água. A planta maior é um ramo de palmeira, em hebreu lulav, לולב. As outras três plantas são dois ramos de salgueiro (aravot), três ramos de murta (hadassim) e um citrino (etrog). A todo o conjunto se chama mais correctamente arba minim ערבה מינים, “quatro maneiras”. Agitamo-los durante todos os dias de Sukot e usamo-los durante os serviços. (Aprenda como agitar o lulav (em inglês))
  3. Cantamos os Salmos de Hallel (Salmos 113-118) no serviço da manhã.
  4. É um costume cabalístico convidar sete hóspedes espirituais na suká (eles se chamam “ushpizin“) e estudamos, cada dia, sobre um deles: Abraão, Isaac, Jacob, Moises, Arão, Josef e David. Sinagogas progressistas mencionam também grandes mulheres da Bíblia, como Sara, Rivka, Rachel, Abigail, Miriam, Deborah e Ester.
  5. Sukot é a festa mais universal do Judaísmo. No tempo do Templo, 70 sacrifícios eram praticados para o perdão das 70 nações do mundo (quer dizer: todas as nações). Por isso, é bastante comum nas sinagogas progressistas convidar pessoas das outras religiões para estarem juntos durante Sukot.
  6. Somos ordenados a ser felizes. Sukot é seman simchateinu, o tempo da nossa alegria.

DIA 16: Segundo dia de Sukot

Sukot dura sete dias, mas para judeus ortodoxos dura oito dias porque o Judaísmo ortodoxo fora de Israel mantém um segundo dia para cada festa; então, o primeiro dia da festa é repetido, mas existem outras leituras da Torá e outros poemas litúrgicos. Para a maioria dos judeus progressistas esse dia já e um dia normal de Chol ha Moed Sukkot.

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4. Uma suká: precisa ter três paredes e um telhado feito de plantas onde a chuva possa passar através

DIA 17-21: Chol haMoed Sukot, חול המועד סוכות

Chol haMoed quer dizer “dia da semana do Festival”. Judeus asquenazitas vão trabalhar como de costume, mas para os judeus sefarditas estes ainda são dias de festa. Então, os asquenazitas usam tefilin durante essa semana – como a cada dia útil – mas as sefarditas não; ainda se sentem em época festiva. Tentamos manter as refeições de cada dia na suká e cada dia usamos o Lulav, que agitamos nas quatro direções, para desenhar simbolicamente a bênção de Deus sobre nós. O som suave dessas plantas é o oposto ao som alto do shofar.

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5 Salgueiros no Hoshaná Rabá

DIA 21: Hoshaná Rabá, הושענא רבה

O sétimo dia é o último dia onde usamos o Lulav e estamos na suká. Por isso, acontece uma grande cerimónia para marcar esse final, claro. O dia denomina-se “grande Hoshaná“, porque nesse dia não existe só um único circuito com os lulavim na sinagoga, mas fazem-se sete circuitos em torno da Torá. De acordo com a tradição hispano-sefardita, dessa vez não só um rolo, mas sete rolos são retirados do aron e após cada circuito um deles é reposto (existem congregações que tocam um som do shofar a cada circuito). Seguidamente, dá-se uma cerimónia especial com os ramos de salgueiro, muito comum entre os sefarditas, que tem um significado semelhante ao da cerimónia asquenazita de Tashlich, em Rosh ha Shaná: ambas as cerimónias ilustram como os nossos pecados são perdoados completamente. Hoshaná Rabá é o fim oficial da época das Grandes Festas que começou 50 dias atrás, com o primeiro dia de Elul. É a última vez que lemos Salmo 27 no serviço e a última vez que os rolos da Torá são vestidos de roupas brancas. Hoshaná Rabá é o fim desta época de expiação, de perdão e purificação. (Mas normalmente, nesta altura toda a gente está tão cansada das festas que este destaque raramente é valorizado adequadamente, especialmente quando calha num dia útil.)

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6. Tradições progressistas: a) homens e mulheres dancam com a tora; b) e c) ver um rolo completo

DIA 22: Shemini Atzeret, שמיני עצרת / Simchat Torá, שמחת תורה

Shemini Atzeret quer dizer “oitavo – final “. É de novo uma festa. Tem uma atmosfera diferente. O número oito no Judaísmo marca o início para viver na realidade, para trabalhar, começar as tarefas reais. Sete dias/meses/anos são uma preparação para uma tarefa nova. Shemini Atzeret é a festa que lembra como a nossa vida depende de Deus, como a terra depende da água para nos dar os nossos alimentos. Nós, seres humanos, dependemos completamente da bênção de Deus. Rezamos para a chuva no Shemini Atzeret. Rezamos para a benção de Deus, para a nossa vida como povo de Israel, como congregação e como indivíduos.

Mas precisamos também de nutrição espiritual para viver, precisamos da Torá. Por isso, em vez das palmeiras usamos, em Simchat Torá, os rolos da Torá. (Ver Simchat Torá em Tel Aviv.) A Torá é a nossa fonte da bênção, da nossa esperança e da nossa vida. Simchat Torá é tão especial, que mesmo pessoas que normalmente não são chamadas para a Torá, podem sê-lo. Por isso, normalmente existe uma cerimónia também para as crianças. É uma festa da Torá para todos. Esse dia também marca o momento em que nós terminamos com a leitura da Torá. Chegamos a Deuteronômio 34. Mas não lemos só os últimos versos da Torá e paramos… um fim sempre é um novo início. Por isso, lemos imediatamente também o primeiro capítulo da Torá, sobre a criação do mundo. Segue-se um momento para honrar também as pessoas que fizeram coisas muito especiais em prol da comunidade durante o ano passado. Essas pessoas são chamadas para a Torá como chatan / kalat Torá: terminando a Torá, e como chatan / kalat bereshit começando a Torá de novo. Podem ser quatro as pessoas honradas – duas na leitura da Torá à noite, e duas na leitura da Torá de manhã. Muitas sinagogas lhes entregam um documento especial que declara que essa pessoa foi “kalat Torá” nessa sinagoga no ano 5777, por exemplo.

DIA 23Simchat Torá nas congregações ortodoxas e masorti fora de Israel e várias congregações reformistas na Europa continental…

Celebram uma festa, que de acordo com a Bíblia só dura um dia, sempre por dois dias. Os ortodoxos fora da Israel usam o primeiro “oitavo dia” para rezar pela chuva e pela memória das pessoas falecidas, sendo a repetição do “oitavo dia” para as danças com os rolos da Torá e pessoas honradas.

Simchat Torá é como o Final dos Jogos Olímpicos ou de um outro grande evento: um grande final divertido para mostrar com grande felicidade o que é mais importante para a identidade das pessoas que organizaram o evento.

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Shabat Bereshit

Trata-se do último shabat do mês espectacular de Tishrê, onde começamos a ler a Torá de novo. Para a tradição hispano-portuguesa é um shabat muito especial, muito festivo. Existem costumes especiais para este shabat: melodias diferentes e serviço com uma atmosfera bastante festiva. (Ouvir “lecha dodi” para Shabat Bereshit da tradição portuguesa ou Psalm 23 para Shabbat Bereshit). O serviço pode ser feito à luz das velas para aumentar a atmosfera festiva. Os asquenazitas não fazem nada de especial no Shabat Bereshit, mas em todo o lado, no serviço da manhã, anunciamos o próximo mês que se chama “Cheshvan“. E imagine-se: o único mês no calendário judaico em que não acontece nada, completamente sem festas.

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Dr.ª Annette Mirjam Böckler é professora de Liturgia Judaica e Bíblica na Universidade Leo Baeck, em Londres, onde é também Bibliotecária. Escritora e tradutora em matérias Judaicas (sendo a tradutora do Seder haTefillot - o primeiro livro de Orações liberal após o Shoah na Alemanha), tem desenvolvido a tradução da edição alemã dos comentários da Torah de W. Gunther Plaut.