Porque é que as chalot são sempre em forma de trança?
Assim foi a pergunta de um membro da comunidade Ohel Jacob, e acho que a resposta vai ser interessante para todos. A resposta mais rápida é: as chalot – os pães para shabat – nem sempre são ou foram em forma de trança. É uma tradição relativamente recente e está relacionada a uma comunidade específica. Mas eis uma explicação mais detalhada:
A chalá em forma de trança começou na idade Média, no século XV, em comunidades europeias asquenazitas. A forma não era de origem judaica. Era comum na Europa Central ter pão branco em forma de trança. Na Alemanha existe o Hefezopf, na França o brioche tressée (pão branco e doce que tem forma exactamente como a chalá de trança). Há certamente tradições semelhantes na cozinha eslava. Este pão fino tornou-se o pão para o shabat. Dentro da comunidade asquenazita a forma inicial desenvolveu formas sofisticadas, às vezes com sete, dez ou doze fios da massa de pão. Por vezes torções menores sobrepostas a torções maiores. As chalot eram alongadas em modo circular ou em forma de grinalda. Os Ashkenazim criaram chalot na forma de uma coroa para Rosh haShaná, na forma de um pássaro (Ioná quer dizer pomba) para Yom Kipur, na forma de um lulav para Sukkot e na forma de uma mão para Hoshana Rabá. Para Chanuká, fizeram chalot na forma de um dreidel. E também para o shabat criaram várias formas: a letra hebraica shin, um peixe, uma menorá … e muito mais. Os Ashkenazim eram realmente criativos com seu pão!
Para os Asquenazitas as chalot são a necessidade absoluta para a shabat. Se alguém não puder oferecer pão e vinho, deve pelo menos ter pão para si. Judeus asquenazitas colocam duas chalot sobre a mesa para lembrar a história da dupla porção do homem no deserto (Exod 16:3-31).
Os Sefarditas têm costumes muito diferentes. Originalmente, judeus de Espanha e Portugal não coziam o pão de forma especial. Ali não se conhecia o costume do pão entrançado. Usavam o pão normal, mas ao prepará-lo, faziam a oferta de chalá – tomando um pouco da massa, dizendo a bênção para a separação de chalá, queimando um pouco da massa e, em seguida, cozendo a chalá (os Ashkenazim também o fazem, pois é esta cerimónia que torna chalot em chalot; refere-se ao costume dos pães da mostra sacerdotal, Lev 24: 5-7). Mas os Sephardim nunca optaram por formas fantasiosas. As chalot pareciam qualquer outro pão. Normalmente eram redondas. E esta é a tradição muito mais antiga. As chalot sefarditas podem ser pão redondo ou pão plano (como pão árabe), podem ser pitas pequenas ou grandes, firmes ou macias, em formato de pizza. As versões mais comuns até hoje são as seguintes:
Os Sefarditas podem usar um número diferente de pães. A maioria dos sefarditas usa dois pães. Mas há uns costumes que usam mais, por exemplo, quatro de acordo com as quatro letras do nome de Deus. Devido ao facto dos sefarditas serem, hoje em dia, uma minoria, o que é comumente conhecido é o costume asquenazita, e até mesmo os Sefardim já são influenciados por eles. Assim, em Londres, por exemplo, encontrar-se-ão chalot em forma de trança na sinagoga hispano-portuguesa. Mas muitas padarias kosher em Londres também vendem as chalot redondas durante todo o ano, a cada shabat (o que pode acontecer é que se uma pessoa chegar muito tarde na sexta-feira, só vai conseguir os redondos).
Saiba que os Sefarditas evitam uma faca com as chalot. Eles rasgam o pão com a mão e atiram os pedaços para as pessoas à mesa. Este acto marca a refeição do shabat como um momento de alegria (colocar o pão na mão era antigamente um costume de tristeza para os sefarditas, e, portanto, não é feito no Shabat, que é um dia de alegria). Os Asquenazitas cortam a chalá com uma faca e, em seguida, escondem a faca e permitem a toda a gente retirar uma fatia.
Antes que de ser ingerida, a chala é mergulhada no sal ou o sal é espalhado sobre ela. Este é um símbolo da aliança de sal (Num 18,19, ver tb Lev 2,13): a aliança eterna entre Deus e Israel. Como o sal nunca perde sabor e como o sal é usado para a conservação, assim é a durabilidade da relação entre Deus e o povo judeu.
Tradicionalmente, o pão pertence à refeição, não ao Kiddush, mas as comunidades judaicas progressistas ligaram os dois símbolos e comer a chalá transformou-se numa parte essencial da cerimónia do “Kidush”.
O significado espiritual deste pão não é mostrado nas suas formas exteriores, mas sim no seu significado para shabbat e no sacrifício de chalá antes de ser cozida.
Então, finalmente, a resposta para a pergunta é: Algumas chalot são em forma de trança porque esta foi uma das muitas maneiras de fazer pão na época medieval na Europa Central, pão que parecia muito bonito e especial. Porque não usá-la para fazer chalot? Sendo que agora, ao usarmos esta forma, podemos até interpretá-la: por exemplo, que o shabat é o dia em que a santidade é entrançada no nosso tempo; ou que nós estamos tão entrançados em Deus quanto os fios da massa da chalá; ou qualquer outra ideia que o leitor possa sentir.
Para saber mais: Freda Reider, The Hallah Book. Recipes, History and Traditions. New York: KTAV, 1987.
(Aprenda a fazer chalá aqui – mas saiba que existem muitas receitas e muitos costumes.)