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parasha - Behaalotechá

Behaalotechá

  |   Judaísmo

Esta semana, a porção semanal “Behaalotechá” contém a famosa história do castigo de Miriam. Miriam e Arão especularam sobre Moisés e o facto de ele ter uma esposa negra. A história é tão abrupta que muitas perguntas ficaram sem resposta.

Tanto Miriam quanto Arão falaram sobre o problema, então porque é que só a Miriam foi punida? Do que é que falaram, quem era essa esposa negra de Moisés e o que há de errado sobre ela ou sobre Moisés tomá-la como esposa?

Vamos examinar os versos da Torá mais próximos: “Miriam e Arão falaram contra Moisés por causa da mulher Cuchita com quem se tinha casado: casou-se com uma mulher Cuchita”.

:וַתְּדַבֵּר מִרְיָם וְאַהֲרֹן בְּמֹשֶׁה עַל אֹדוֹת הָאִשָּׁה הַכֻּשִׁית אֲשֶׁר לָקָח כִּי אִשָּׁה כֻשִׁית לָקָח

Os intérpretes estão atentos ao facto de que Miriam é mencionada primeiro, antes de Arão. Portanto, chegaram à conclusão de que ela iniciou esta discussão, ou seja, é ela a responsável pela discussão. E, por tal, foi ela a pessoa punida.

O que houve de tão terrível acerca desta discussão sobre a mulher negra que Moisés havia tomado para si permanece um segredo para nós. Mas o segundo verso representa uma clara reivindicação de liderança e, portanto, pode ser interpretado como um motim: “Eles disseram: Terá o Senhor falado apenas através de Moisés? Não terá Ele também falado através de nós? O Senhor ouviu.”

:וַיֹּאמְרוּ הֲרַק אַךְ בְּמֹשֶׁה דִּבֶּר ה’ הֲלֹא גַּם בָּנוּ דִבֵּר וַיִּשְׁמַע ה’

A família de Moisés é uma família única: todas as crianças, a irmã e dois irmãos são profetas. Mas, de alguma forma, desde o início da história do Êxodo, é claro e inquestionável que Moisés é o escolhido. A história do seu nascimento abre o livro do Êxodo e só por acaso descobrimos que ele tem uma irmã mais velha. A existência de um irmão mais velho, Arão, é anunciada ainda mais tarde na história.

Deus como um pai negligente mostra sinais claros de preferência de um de seus filhos sobre os outros. Então, a amargura expressada por Miriam e Arão é bastante compreensível. Neste verso, eles são chamados a falar ambos sobre o seu ciúme para com Moisés:

וַיֹּאמְרוּ = e eles disseram

Moisés não responde às suas reivindicações. Pelo menos, a Torá não menciona nada sobre a resposta literal ou emocional de Moisés à amargura dos seus irmãos.

Mas o narrador faz um comentário inesperado sobre Moisés: “Agora Moisés era um homem muito humilde, mais do que qualquer outro homem na terra”.

:וְהָאִישׁ מֹשֶׁה עָנָיו מְאֹד מִכֹּל הָאָדָם אֲשֶׁר עַל פְּנֵי הָאֲדָמָה

Parece que o que é reforçado aqui é o facto de Moisés não estar envolvido em misturas de raças, ele está acima dos rumores e fofocas.

Mas Deus preocupa-se com o Seu escolhido. Deus pede aos três que venham até ao altar. Deus está furioso com Miriam e Arão por questionarem a Sua escolha. Não é apenas Moisés quem é melhor do que qualquer outro homem. Mas Deus decidiu escolhê-lo a ele e falar-lhe directamente, cara a cara. Miriam e Arão queriam estar tão perto de Deus quanto Moisés. Não há nada de errado sobre o anseio destes para com Deus.

Mas Deus sente algum tipo de ameaça nos seus desejos: eles questionam o líder que Deus havia escolhido para os filhos de Israel; Eles questionam a decisão de Deus.

Então, Miriam é punida através da lepra que era considerada o castigo de Deus por comportamento imoral. Esta história tornou-se uma história típica sobre maledicência, “lashon haraa”, e respectivo castigo na nossa tradição até aos dias de hoje.

A este respeito, a resposta do povo de Israel é desafiadora: “Então, Miriam foi isolada no campo durante sete dias; e as pessoas não caminharam até Miriam ser redimida.”

:וַתִּסָּגֵר מִרְיָם מִחוּץ לַמַּחֲנֶה שִׁבְעַת יָמִים וְהָעָם לֹא נָסַע עַד הֵאָסֵף מִרְיָם

Todos os leprosos tiveram que passar sete dias fora do acampamento de Israel até serem limpos. Todo o povo de Israel não se moveu até que Miriam voltasse. A Torá, na sua forma lacónica, não fornece nenhum comentário adicional, mas a recusa dos filhos de Israel em deixar Miriam significa que ela não era apenas uma líder, mas também uma pessoa querida e importante para muitos deles.

A comparação entre a resposta de Israel ao castigo de Deus para com Miriam e Moisés é mais do que intrigante: Moisés, como castigo, não teve permissão para entrar na terra de Israel. Ninguém do seu povo levantou uma voz em sua defesa, enquanto Miriam era apoiada por todos eles. Apesar do facto de que em ambos os casos os castigos vieram directamente de Deus, o que significa que eles foram, em última análise, justos.

O povo de Israel, inconfundivelmente, votou contra a decisão de Deus no caso de Miriam.

Além disso, na tradição judaica, Miriam é uma profeta importante que providenciou aos filhos de Israel o seu poço de água viva no deserto. Este milagroso acontecimento seguiu Israel mesmo após a morte de Miriam. As histórias do midrash contam-nos sobre reaparecimentos do poço de Miriam nos tempos posteriores, sempre que Israel precisava.

A parashá é muito desafiadora, mas atraente para qualquer modelo de movimento liberal: nós acreditamos em Deus e na sua justiça, adoramos e oramos a Deus, acreditamos que Deus seja uma fonte de bem e moral, mas também questionamos Deus e as Suas decisões. Examinamos um equilíbrio delicado entre fé e responsabilidade pessoal, entre o espiritual e o racional, entre o poder de Deus e o nosso impacto pessoal nas nossas próprias vidas.

Que seja vontade de Deus realizarmos esta nossa busca com sucesso.

Shabbat Shalom!

Rabina Alona Lisitsa

ohel - Behaalotechá
Sinagoga de rito Progressista, única askenazi em Portugal, fundada em 1934. Membro Afiliado da EUPJ/WUPJ (European Union Of Progressive Judaism / World Union Of Progressive Judaism) desde Abril de 2016.